segunda-feira, 30 de abril de 2012

O MAR E O LAGO


amar o mar
amar o lago
o sol e o sal
o céu ao léo

o amor ao mar
amadureceu
no lago dos cisnes
amor ao sol
solto na areia

amor ao céu
até onde a vista
chega o ato afaga
a areia
se você fosse
sincera

amor ao sal
escorrendo na pele
do canto refrão
a mulher
de verdade
sem vaidade

amar o povo
fugir do rodo e rolo
compressor
da dita dura

o mar e o lago
o lago é o mar
na cantiga de ninar
no grito libertar

cantar famélias
joão caetano
municipal
nas telas
e
telinhas

auroras e amélias

nas ruas avenidas
o largo mar
de gente
comprimida
nega do cabelo
duro

durou o tempo
do sonho
o povo
suando

quinta-feira, 26 de abril de 2012

AMORCEGAÇÃO


morcego
            persegue
                        na noite
                        no norte
            secreto
do som


soma
    sequencia
                    no cimo
                    do sonho
    sirene
sonora


namora
            morando
                        na ponta
                        na porta
            sonando
a amada


insensato
            insiste
                        no ato
                        no fato
            do amor
cegando


realidade
            rebrilha
                        na aurora
                        do dia
            nega
paixão


morcego
            espera
                        na volta
                        da noite
            o amor
chegar


insensato
            persiste
                        no ato
                        do fato
            do amor
cegando




Poema publicado originalmente em
MONTEIRO, Clodomir. Derroteiro de Rotinas. São Paulo: Quíron/Práxis, 1976. p.55

quinta-feira, 12 de abril de 2012

APONTE DOS DOIS MENINOS


além do tempo e razão
oculto em nossas origens
eu vejo que nos separa
aquela ponte inconclusa


muito tempo poucas falas
muitas falas nenhum tempo
afinal nos temos ditos
o que a fala não ditou

não ditou que a vida é breve
não ditou que amanhecemos
e os discursos decifraram
sonhos do entardecer

resta pois saber meu pai
aguardar o anoitecer
para juntos combinarmos
noutra ponte mais sensível

onde está o par genético
na razão ou na emoção
voltaremos dois meninos
um no outro escondido?

somando ao tempo a razão
por dentro dita a memória
nos ajunta o que não vejo
de uma ponte indestrutível



Clodomir Monteiro

* A Ponte de Heráclito (1935), de René Magritte.

sábado, 7 de abril de 2012

PÁSCOA NA REDE JESUS


Páscoa que nada no corpo
alma danada de porto
presa na água conforto
espuma olho de morto

Páscoa com tudo de horto
calma aninhada do torto
na granja seca ovo afoito
espinha em sesta absorto

Páscoa que nada na alma
pesca da paz como acalma
leva na mão gema apalma
espinho em sexta que salva

Páscoa que sobe da cruz
convida peixe conduz
cravada mão palma luz
Páscoa na rede Jesus



Clodomir Monteiro
Rio Branco, Acre, 05/04/2012


*

art by Wassily Kandinsky